O Prémio Vasco Graça Moura – Cidadania Cultural foi atribuído, por unanimidade do Júri, ao escritor e ensaísta Eduardo Lourenço.
Instituído pela Estoril Sol, em parceria com a Editora Babel, o Prémio, com periodicidade anual e no valor de 40 mil euros, foi criado em homenagem à memória de Vasco Graça Moura e é divulgado no dia em que celebraria o seu aniversário.
Da acta do Júri, presidido por Guilherme d`Oliveira Martins, ressalta que depois de apreciados os nomes das várias candidaturas propostas, Eduardo Lourenço recolheu a unanimidade em função do “ percurso intelectual do premiado” que “ corresponde inteiramente aos objetivos definidos aquando da criação deste Prémio”.
“Trata-se de uma personalidade multifacetada – pode ler-se na acta do Júri - que se singulariza pela coerência entre um pensamento independente e aberto e uma permanente atenção à sociedade portuguesa, à sua cultura, numa perspetiva universalista, avultando a reflexão sobre uma Europa aberta ao mundo e nunca fechada numa qualquer fortaleza encerrada no egoísmo e no preconceito. Em tempos de incerteza trata-se de uma voz de esperança, que apela ao diálogo e à paz, com salvaguarda da liberdade de consciência e do sentido crítico. A sua heterodoxia mantem-se viva e atual em nome do compromisso cívico com a liberdade e a responsabilidade solidária”.
“Acresce que Vasco Graça Moura – recordam ainda os membros do Júri - manifestou em diversas circunstâncias expressamente a sua admiração pela personalidade de Eduardo Lourenço como intelectual e cidadão, em especial quando foi o principal promotor da candidatura vencedora do ensaísta ao Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon (1988), a propósito da publicação de «Nós e a Europa ou as duas razões». O reconhecimento de uma personalidade largamente consagrada constitui assim e também uma homenagem a Vasco Graça Moura, que tanto apreciava a obra e a pessoa de Eduardo Lourenço».
É vasto o currículo do vencedor desta primeira edição do Prémio Vasco Graça Moura – Cidadania Cultural. Eduardo Lourenço, um dos mais notáveis filósofos e ensaístas portugueses, distinguido com o Prémio Pessoa em 2008, nasceu em Maio de 1923, em S. Pedro do Rio Seco (concelho de Almeida), tendo frequentado a Escola Primária local, ingressando depois no Colégio Militar, onde concluiu o curso em 1940.
Inscreveu-se, então, na Faculdade de Ciências, curso de que desistiu para prestar provas, mais tarde, em Ciências Histórico- Filosóficas, que concluiu em 1946, apresentando uma tese sobre " O Sentido da Dialéctica no Idealismo Absoluto", posteriormente editada.
Em 1949, partiu para França, a convite do Reitor da Faculté de Lettres da Universidade de Bordéus, com uma Bolsa de Estágio da Fundação Fulbright.
A partir de 1953, iniciou uma carreira académica que o levaria a várias reputadas universidades europeias, entre as quais as de Hamburgo, Montpellier, Heidelberg. Baía, Grenoble, Nice, entre outras. Já em 1965, fixou residência em Vence.
Professor jubilado na Universidade de Nice em 1988, recebeu o Prémio Europeu do Ensaio “Charles Veillon”, pelo conjunto da sua obra. Um ano depois, foi Conselheiro Cultural junto da Embaixada Portuguesa em Roma, onde ficou até 1991.
Foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique (Grande Oficial) e recebeu os Prémios António Sérgio e Vergilio Ferreira. Doutorado Honoris Causa, pelas Universidades do Rio de Janeiro, de Coimbra e Nova de Lisboa, Eduardo Lourenço foi ainda distinguido com o Prémio Camões em 1995.
São, aliás, inúmeras as distinções que têm sublinhado, justamente, o percurso notável de Eduardo Lourenço, quer no plano intelectual, quer no académico e de cidadania.
A Cátedra Eduardo Lourenço, criada sob a égide do Instituto Camões/Universidade de Bolonha, foi inaugurada em Dezembro de 2007 por ocasião do doutoramento Honoris Causa em Literaturas e Filologias Europeias pela Universidade de Bolonha, assumindo esta um perfil de trânsito de saberes transdisciplinares nas suas reflexões sobre Portugal e as culturas de língua portuguesa.
Em 2008, o Centro Nacional de Cultura, por si e em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian promoveram, em Lisboa, diversas manifestações em sua homenagem, designadamente, um Ciclo de Conferências e, depois, um Congresso Internacional.
O Júri que atribuiu o Prémio Vasco Graça Moura, além de Guilherme D`Oliveira Martins, foi integrado por Maria Alzira Seixo, José Manuel Mendes, Manuel Frias Martins, Maria Carlos Gil Loureiro , Liberto Cruz e, ainda, por José Carlos Seabra Pereira, em representação da Babel e Lima de Carvalho e Dinis de Abreu, pela Estoril Sol.
Nos termos do Regulamento, o Prémio Vasco Graça Moura “visa distinguir um escritor, ensaísta, poeta, jornalista, tradutor ou produtor cultural que ao longo da carreira - ou através de uma intervenção inovadora e de excepcional importância -, haja contribuído para dignificar e projectar no espaço público o sector a que pertença”.
Sem comentários:
Enviar um comentário