Para comemorar esta Páscoa, a história das mais belas obras primas da joalharia.
Os ovos Imperiais da Páscoa de Fabergé
Na Rússia Czarista a Páscoa era uma data muito especial e continua a ser no calendário da Igreja Ortodoxa Russa, todos se cumprimentavam com três beijos e diziam: “Cristo ressuscitou”, recebendo a resposta: “Verdadeiramente, Cristo ressuscitou”. E presenteavam-se com ovos, que representavam a nova vida que surgia, o renascer das esperanças a cada ano, um período muito especial onde podemos renovar os nossos pensamentos e abrir a mente a um futuro melhor. Os ovos que o povo trocava entre si eram verdadeiros e pintados a mão. A família real Romanov e os nobres da corte também seguiam a tradição dos ovos e os ofereciam entre si, no entanto esses ovos eram feitos de materiais que incluíam metais como o ouro, prata, platina, níquel, paládio e cobre sendo decorados com esmalte, pedras preciosas e semipreciosas diversas. Esta tradição dos ovos imperiais preciosos é iniciada no ano de 1885, quando o Czar Alexandre III encomendou ao joalheiro da corte imperial russa, Peter Karl Fabergé, um ovo como presente para a sua esposa a Imperatriz Maria Fedorovna que continha uma surpresa inesquecível no seu interior, ao critério do joalheiro. No caso do primeiro ovo denominado a
“Galinha” , exteriormente com aparência de um simples ovo, em ouro esmaltado de branco, mas ao abri-lo revelava-se uma gema de ouro que dentro de si possuí uma galinha com olhos de rubi, dentro desta por sua vez continha um diamante lapidado com a réplica da coroa dos Czares. O sucesso foi enorme junto dos membros da corte, dando assim inicio a tradição dos ovos de Fabergé e este nomeado como fornecedor da Corte. Todos os anos o Czar encomendava um ovo diferente para dar à Czarina na Páscoa, sendo incumbido Fabergé elabora-lo como bem quisesse e a seu gosto.
Primeiro ovo da Páscoa Imperial denominado Galinha, de 1885 (Col. Fund. Victor Vekselberg)
Após a morte do Imperador em Outubro de 1894, o seu filho Nicolau II, prosseguiu com esta tradição, encomendando a Fabergé dois ovos por ano, um para a sua mãe e outro para a sua esposa, Alexandra. O ovo encomendado em 1897 denominado de ”Coroação” , sendo decorado com diamantes, rubis, cristal de quartzo, platina e ouro, dentro uma réplica da carruagem que transportou a Czarina pelas ruas de Moscovo durante as festividades da coroação de Nicolau II.
Ovo da Coroação encomendado em 1897 (Col. Fund. Victor Vekselberg)
Ovo da Páscoa denominado lilases do Vale, de 1898
Os ovos de Fabergé eram peças únicas, alguns celebrando temas íntimos da família, outros celebravam eventos notáveis do Estado Russo como o comboio Transiberiano entre outros temas. Estas peças eram dotadas de pequenos e delicados mecanismos que mostravam o segredo do seu interior. Este ovo anual era sempre a grande surpresa para a família imperial, admirado por toda a Corte e sendo objeto de desejo generalizado. Estes ovos por serem exclusivos e detalhadamente elaborados, tornaram-se peças valiosíssimas, levando um ano inteiro para serem confecionadas, desde o desenho exclusivo, ao corte, a lapidação das pedras e todos os detalhes, envolvendo os mestres da casa Fabergé, sendo tudo feito em absoluto sigilo. Os ovos eram cuidadosamente guardados junto do tesouro da família Rmanov. A cada ano os ovos da Páscoa Imperial ficavam mais ricos e extravagantes, até hoje considerados o topo supremo e o apogeu do artesanato de joias.
Ovo dedicado ao comboio Transiberiano, de 1900 (Col. museu do Kremlin)
Ovo de dedicado ao filho do Czar, denominado Czarevich, de 1912 (Col. The Walter Arts Museum)
Alguns exemplos de ovos da Páscoa imperial criados por Fabergé entre 1885 e 1916, verdadeiras obras primas e expoentes máximos da joalharia, preservados em coleções particulares e museus.
Último ovo da Páscoa produzido por Fabergé dedicado a ordem de S. Jorge, em 1917( Col. Fund Victor Vekselberg.)
Com a Revolução Russa em 1917, terminou a produção destas peças e as últimas encomendas ficaram suspensas, o tesouro dos Romanov foi confiscado pelos bolcheviques sendo dispersado (incluindo os ovos) e a família imperial russa barbaramente assassinada em 1918. Todos os palácios do Império Romanov foram saqueados e os seus tesouros removidos por ordem de Vladimir Lenin, tendo sido levados para o palácio do Arsenal do Kremlin. Mais tarde vendidos alguns exemplares por Joseph Stalin em 1927, por sua vez dispersos por colecionadores e antiquários por todo o mundo. Foram produzidas 56 obras primas destas de 1885 a 1916. Até 1998 tinham sido localizados 44 destes exemplares, em 2002 noticiários internacionais davam conta que um ovo imperial tinha sido rematado num leilão da casa Christie’s pela quantia de 9,6 milhões de dólares. O terceiro dos ovos da Páscoa desaparecidos e avaliado em 24 milhões de euros, foi descoberto em 2014 num mercado de velharias em Nova Iorque. Peça composta por um relógio Vecheron Constantin que se encontra no seu interior e mede cerca de 8,2 cm de altura, foi oferecido na Páscoa de 1887 pelo Czar Alexandre III à sua mulher Maria Feodorovna, denominado “Serpente azul com relógio” . Alguns estão ainda em coleções privadas ou podem ser admirados em museus de todo o mundo.
Ovo da Páscoa denominado Serpente Azul com relógio de 1887, descoberto em 2014
Após a Revolução Russa, a casa Fabergé foi nacionalizada pelos bolcheviques, a família Fabergé fugiu para a Suíça onde se exila, Peter Karl Fabergé viria a falecer em 1920. A história dos ovos de Fabergé é marcada pelo luxo e pela tragédia da família Imperial Russa. Disputados por colecionadores em todo o mundo, os famosos ovos da Páscoa criados pelo famoso joalheiro russo são admirados pela perfeição e considerados expoentes máximos na arte da joalharia. A casa Fabergé que voltou a renascer, esta atualmente representada em França, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos e Brasil. A joalheira produz séries limitadas de ovos em cristal “Saint Louis” vermelho, verde, azul ou translúcido, a lapidação reproduz os desenhos originais do século XIX e inicio do século XX.
Peter Karl Fabergé criador dos famosos ovos da Páscoa
Exemplo de ovos produzidos atualmente pela casa Fabergé
Texto:
Paulo J. A. Nogueira